É
comum ouvirmos dizer que um esportista (seja ele profissional ou um atleta de
fim-de-semana) é uma “fera” na tentativa de caracterizá-lo por seu
comportamento, principalmente em época competitiva, em que se modifica seu
estado de tensão. O fato é que se um fulano pode ser um doce de pessoa, também
pode ser amargo ou azedo. Este é o seu tempero: algumas vezes fáceis outras
difíceis de engolir. Todos nós temos um mínimo destas coisas, que não são más
ou boas, mas que têm lados positivos e negativos, não havendo ninguém que seja
exclusivamente de um ou outro temperamento.
Temperamento, aqui, entra não apenas como ato ou efeito de temperar, mas principalmente como o conjunto dos traços psicológicos e morais que determinam o modo de ser do sujeito. Competitivamente, dizer, por exemplo, que um alguém tem temperamento agressivo envolve, além do estado fisiológico, características que afetam seu modo de agir (o que traz uma certa imprevisibilidade) e que também não são más ou boas, mas que têm lados positivos e negativos provenientes da própria natureza do homem.
Todos possuímos características particulares cujos nomes não devem ser associados ao significado pejorativo muitas vezes atribuídos às pessoas que conhecemos. Afinal, ninguém gosta de ser rotulado disso ou daquilo, de ser um “animal”, por exemplo. Muitos atletas revertem o jogo, passam a se utilizar deste estigma a seu favor e se fortalecem desta sua “imagem” para enfraquecer o adversário por inibição.
O fato é que as determinações genéticas sempre estão presentes no comportamento do esportista, e temperamento pode, então, ser considerado como uma mistura de humores, ou seja, como uma mistura de sabores: um tanto azedo, um tanto doce, um tanto amargo; sabores que se manifestam de acordo com a ocasião porque, embora inatos, sofrem influência do meio, uma vez que o sujeito não se reduz apenas ao biológico como alguns cientistas fazem crer.
Fazem crer e neste prisma vão dizer que, na competição, o melancólico, por exemplo, por ser extremamente perfeccionista e teórico, precisa ser muito estimulado até que vença a fase do pensar e do fazer. É o esportista que a todo instante busca respaldo no técnico ou em quem for, visto necessitar de reforços de aprovação, uma vez que, sob seu ponto de vista, suas estratégias serão sempre imperfeitas. Também vão dizer que o fleumático, como introvertido e detalhista, é aquele que planeja antes a melhor forma de executar a tarefa a ser posta em prática, para depois levá-la, por conta própria, até o fim, tenha sido advertido ou não, esteja certo ou errado. Ainda diriam que o sangüíneo, por sua vez, supondo que se consiga chamá-lo para dentro da atividade, precisa sempre ser lembrado do que fazer, para que não se desvie do objetivo proposto; e que o colérico é aquele esportista que tende a primeiro executar para depois pensar como fazê-lo, perfeito para tarefas rápidas que necessitem de iniciativa e determinação, desde que ninguém se coloque à sua frente, claro, pois este certamente será atropelado por ele.
Mesmo supondo que seja exatamente assim, todos temos características que se encaixam em um ou mais temperamentos e saber disso é mesmo muito legal, principalmente quando se fala em termos competitivos. Mas também é muito importante ter na cabeça que o temperamento explica nosso comportamento, mas não deve servir de desculpas para ele. O fato é que não há comportamento que dê conta do sujeito, quer tenha sido ele o vencedor, quer tenha sido o vencido. O esportista deve, sempre, responsabilizar-se pelo seu ato. É isso que, de fato, conta: que ele banque suas ações!