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O movimento na infância e o esporte do futuro.

Contextualizações para uma Iniciação Esportiva Adequada

Foto de Fernanda Ramirez

Fernanda Ramirez

As crianças das grandes cidades, que já perderam seus quintais, suas ruas, suas praças, seus jardins e que aos poucos perdem também os espaços públicos de lazer sendo os clubes privilégio para poucos, não podem deixar de se movimentarem. Segundo pesquisas, após os 6/7 anos de idade nada em relação ao comportamento motor é novo e os elementos básicos já devem ser de domínio do indivíduo. Só que em uma sociedade aonde as árvores foram substituídas pelos trepa-trepas e as brincadeiras de rua trocadas pelos computadores, manter um processo de aquisição de repertório motor, ou seja, de acúmulo de movimentos e experiências corporais que sob o ponto de vista da aprendizagem é muito importante para o adquirir das novas habilidades, fica mais difícil e atrasa o processo de desenvolvimento infantil.

Esta perda de funções em decorrência do automatismo da vida moderna traz conseqüências não só para o comportamento motor, mas também para a saúde futura do indivíduo uma vez que a coordenação, o equilíbrio, a flexibilidade e até mesmo o andar ficam comprometidos. Neste sentido, enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) faz um alerta para os altos índices de obesidade infantil, os profissionais da área da Educação Física e Esportes alertam que esta falha na fase em que os movimentos vão sendo adquiridos e modificados compromete além da saúde motora da criança todo o processo de iniciação esportiva que, então, corre o risco de ser precoce ou tardia.

A regra é simples: quem tem uma boa base de movimentos, terá melhores possibilidades motoras na vida contínua. Principalmente, poderá desenvolver atividades com riquezas de ações esportivas como o futebol e outros esportes em que as exigências de movimentos são muito amplas. O fato é que existem fases ideais para o aprendizado de tais e tais gestos motores. Uma pessoa não pode, por exemplo, andar sem antes ter rastejado ou engatinhado. E quando se perde ou se pula uma destas fases parte do processo fica prejudicada. Parte do processo fica prejudicada porque uma pessoa pode aprender movimentos em qualquer fase da vida, mas infelizmente, estes não serão tão eficazes quanto aqueles aprendidos na idade ideal.

Veja como a coisa não é tão simples quanto parece: se a tendência é cada vez mais a tecnologia roubar os movimentos que comumente se adquiria na infância, resgatá-los e compensá-los torna-se de suma importância, o que não é tarefa fácil. Requer, sobretudo, que eles sejam vistos com mais diversidade uma vez que estão cada vez mais ausentes nas vidas das pessoas. Na iniciação esportiva acontece a mesma coisa. Não dá para incentivar escolinhas de esporte especializadas em uma única modalidade. A criança tem que aprender todos os movimento corporais, não importa se é para o futebol, para o basquetebol ou o voleibol. Primeiro ela recupera aquilo que a sociedade tirou e depois acontece o que os acadêmicos chamam de prática transferível, ou seja, transfere-se o aprendizado relacionado a uma modalidade para outra e assim por diante. Por isso é que é tão importante que os pais, principalmente estes, conduzam seus filhos aos ambientes esportivos que ofereçam uma riqueza de repertório motor paralelamente aos esportes, já que não basta ensinar à criança uma especialidade porque, como diz Einstein em seu texto Como vejo o mundo, ela “se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade”.

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